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Redução dos passes: CIM do Cávado não fez o trabalho

É escandalosa a diferença da redução no tarifário para os utentes das Áreas Metropolitanas do Porto e de Lisboa e os utentes dos municípios do Cávado e do Ave.

Vejamos o que está a acontecer na Comunidade Intermunicipal (CIM) do Cávado, a que Barcelos pertence. Obteve 1,6 milhões de euros para investir no programa de redução tarifária nos transportes públicos, distribuídos pelos vários concelhos. Cada município decidiu o que fazer à verba que lhe coube. Para Barcelos vieram 423 mil euros. Com exceção dos estudantes, quem se desloca para trabalhar fora do município não tem qualquer benefício.

Independentemente das reduções conseguidas município a município, o facto é que ninguém consegue perceber qual é a estratégia da CIM Cávado para a melhoria da mobilidade e dos transportes no conjunto do seu território e na ligação com a Área Metropolitana do Porto e com as CIM do Ave e Alto Minho. Quem se desloca entre municípios do Cávado ou para o Porto não tem qualquer redução tarifária nos transportes.

Parece que os autarcas desconhecem que circulam entre a CIM Cávado e a AM do Porto em movimentos pendulares cerca de 12 mil pessoas. Entre as CIM do Cávado, Alto Minho e Ave são aproximadamente 18 mil as pessoas que se deslocam com regularidade. E não são apenas estudantes, são trabalhadores que diariamente fazem o trajeto casa – trabalho – casa e que pagam muito para poderem ir trabalhar.

Por exemplo, o passe mensal da CP entre Barcelos e Porto custa 114,90 euros. Não está prevista qualquer redução de preço. Uma redução no valor deste passe, assim como no do transporte rodoviário, seria importante para aumentar a atratividade dos transportes públicos e para que mais pessoas utilizassem o transporte com menos custos. Seria bom em termos económicos para as famílias e para o ambiente. Seria um contributo para uma estratégia regional de mobilidade, que não se pode resumir a decisões centradas em cada município de per si.

Isto não é nada que já não esteja a acontecer noutras regiões do país, para além de Lisboa e Porto. Os preços dos passes multimodais na CIM do Tâmega e Sousa serão iguais aos dos novos títulos de transportes da Área Metropolitana do Porto e Área Metropolitana de Lisboa: 30 euros para viagens dentro dos concelhos e 40 euros para viagens entre municípios da CIM. Haverá ainda um passe multimodal de 40 euros que dará ligação à Área Metropolitana do Porto. O passe de Penafiel até ao Porto baixa de 90 para 40 euros.

Na CIM Oeste, as deslocações intermunicipais passaram a ter um custo máximo de 40 euros. O passe entre Caldas da Rainha e Peniche tinha o custo de 101,90 euros e agora, com a redução tarifária, fica a 40 euros. As ligações entre a CIM Oeste e a Área Metropolitana de Lisboa, a Lezíria do Tejo e a Região de Leiria têm um desconto de 30%. O passe simples Caldas – Lisboa – Caldas tinha o preço de 166,40 euros e passou a ter o custo de 116,50.

Só mais um exemplo do que é possível fazer. O custo do passe para os utentes das ligações entre Lisboa e as CIM do Médio Tejo e da Lezíria baixaram em cerca de 40%. Os utentes do Entroncamento que pagavam para a cidade de Lisboa 252 euros, passam a pagar 178 euros, que representa uma poupança de 74 euros.

Se foi possível estas Comunidades Intermunicipais articularem-se entre si e com as Áreas Metropolitanas mais próximas, negociarem com os operadores de transportes reduções tarifárias significativas, qual a razão que nada disto foi possível na CIM do Cávado e nos municípios que a integram (Esposende, Barcelos, Vila Verde, Braga, Amares e Terras de Bouro)?

Foi falta de vontade política ou falta de trabalho para que fossem encontradas soluções de redução tarifária que juntassem as CIM do Alto Minho, Cávado, Ave e a Área Metropolitana do Porto? Terá sido uma espécie de paroquialismo que levou cada presidente de Câmara a querer gerir a verba que lhe calhou no Programa de Apoio à Redução Tarifária, sem olharem para os milhares de munícipes que se deslocam diariamente para trabalhar noutros concelhos?

Há meses que andamos a alertar para este problema. Esperamos que os autarcas responsáveis pela CIM Cávado se mexam e encontrem novas respostas em breve, a exemplo do que está a acontecer noutras regiões, em benefício de quem tem de se deslocar para trabalhar e dos utentes dos transportes públicos. 

 

Artigo publicado no jornal Barcelos Popular