Hoje vemos bem como a maioria absoluta do PS deixou de ter vergonha, mostrando ao que vem. A resposta ao aumento do custo de vida parece ter ficado no fundo da gaveta de António Costa – a direita e os interesses financeiros agradecem.
Vivemos hoje uma das maiores crises socioeconómicas da nossa história recente, consequência dos últimos dois anos de pandemia da COVID-19, que a guerra na Ucrânia veio agravar. A par disso, a emergência climática agudiza-se, com os recursos naturais a escassear.
Exige-se hoje aos Governos de todo o mundo que atuem de forma a responder à crise, com políticas que protejam as pessoas. Portugal parece ser exceção, estando António Costa mais preocupado com as metas financeiras de Bruxelas, do que com quem trabalha e trabalhou toda a vida. Exemplo disso é o pacote de apoio às famílias que o Governo do Partido Socialista (PS) apresentou como resposta ao aumento de custo de vida – um autêntico pacote de ilusionismo.
Qual a razão para dar um apoio extraordinário único de 125€ (para quem tem um rendimento mensal bruto até 2700€), em vez de aumentar salários? Com o contínuo aumento da inflação, quem trabalha está hoje a perder dinheiro face à não atualização dos salários – perante a escalada de preços, 125€ esgotam-se muito rapidamente. O Governo oferece migalhas a quem precisa do pão por inteiro, que é seu por direito.
As pensões seguem o mesmo caminho. Ao invés de as atualizar, o Governo adianta “meia pensão” como um apoio excecional. Do que se trata, na verdade, é do congelamento das pensões – com esta artimanha, a atualização das pensões à inflação fica suspensa. Além disso, está também relançado o debate sobre a sustentabilidade da Segurança Social (SS), com o PS a preparar uma reforma da lei das pensões. Estamos perante um tenebroso ataque ao sistema de repartição de pensões da SS, pondo em causa um dos pilares do Estado social que conquistamos com o 25 de Abril.
Mas, fora do leque dos truques, surge também uma surpresa. Por toda a Europa, os Governos tributam os lucros extraordinários das grandes empresas, uma medida que tem o patrocínio da própria Comissão Europeia. Em Portugal, assistimos ao silêncio de António Costa e a manobras de malabarismo dos seus ministros, que demonstram bem a resistência que o Governo tem em taxar quem enriquece com a crise – sendo que as receitas destes impostos poderiam ser usadas para apoiar as e os portugueses.
Hoje vemos bem como a maioria absoluta do PS deixou de ter vergonha, mostrando ao que vem. A resposta ao aumento do custo de vida parece ter ficado no fundo da gaveta de António Costa – a direita e os interesses financeiros agradecem, enquanto o povo sofre e paga a crise pela qual não é responsável.
É necessário responder ao aumento do custo de vida com medidas sérias e políticas justas, que aumentem salários e pensões, taxando os lucros de quem ganha com a crise e garantindo o investimento necessário para os serviços públicos. Sem truques, nem aldrabices.
Artigo publicado no jornal Barcelos Popular a 6 de outubro de 2022.