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“Depois de ganhar as eleições o Syriza precisa de ganhar o poder”

Marisa Matias, Pedro Soares e Rita Ribeiro

“Depois de ganhar as eleições o Syriza precisa de ganhar o poder”, afirmou a eurodeputada do BE, Marisa Matias, durante um debate muito concorrido que decorreu na passada quinta-feira, no espaço GNRation, em Braga.

Marisa Matias, que recordou com muito entusiasmo alguns momentos da campanha do Syriza, em que participou, não escondeu que o novo governo grego tem um longo combate pela frente, porque os líderes europeus “têm necessidade de manter a dívida como instrumento de chantagem”, e de “manutenção da sua hegemonia, que ficou ameaçada”.

A eurodeputada do Bloco, salientou, no entanto, que a vitória de um partido como o Syriza teve o mérito de “questionar essa hegemonia e de trazer um outro discurso para o centro do debate” E, o que “estamos a começar a ver – afirmou – é que há cada vez mais quem pense que o problema político não é a Grécia mas sim a Alemanha”.

Na opinião de Marisa Matias a solução deste impasse “vai depender mais dos outros governos, do que da Grécia e da Alemanha”.

Rita Ribeiro, socióloga e professora da Universidade do Minho, recordou a criação da União Europeia como “uma história de redenção, em que as divisões, o fechamento, as guerras, deram lugar a uma narrativa de paz, justiça, prosperidade, que foi quebrada com esta crise”.

Europeísta convicta e estudiosa da identidade europeia, Rita Ribeiro recordou que chegamos até aqui porque a Europa abdicou da política: “Saiu-nos muito mal aquela ideia do fim da história, do fim das ideologias, porque nos levou ao pensamento único, à ideia de que não havia contraponto ao capitalismo”. O resultado, segundo aquela socióloga, foi a tomada de uma série de decisões, nas costas dos povos, “que minaram as bases democráticas do projeto europeu, levando a que um só país, em 27, consiga dominar as decisões, fazendo-nos viver uma espécie de simulacro da democracia”.

Rita Ribeiro sublinhou no entanto, que grande lição dos gregos foi terem usado o voto, não como um simulacro, mas como um regresso à forma mais básica da política, assim como o facto da vitória do Syriza obrigar a repensar o projeto europeu.

Para Pedro Soares, da Comissão Permanente do Bloco de Esquerda, “nunca a elite europeia tinha sido confrontada com a situação que estamos a viver hoje, com um governo que vem dizer que, afinal há alternativas”.

O dirigente do BE salientou ainda o ambiente de chantagem em que decorreram as eleições gregas para concluir que “isso não impediu os gregos de votarem pela sua dignidade” e que esse exemplo “deve fazer-nos pensar sobre o que estamos a viver em Portugal”.