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Mais favas que passas para um novo ano

Ainda que o Orçamento Municipal de Barcelos não responda, de todo, às ambições e necessidades das e dos barcelenses, parece agradar (pasme-se!) quer ao PS, quer à extrema-direita do Chega, dado que o aprovaram. 
 

Voltamos à altura em que celebramos a chegada do fim de mais um ano. 2023 aproxima-se e, com isso, novas preocupações surgem. Mas o que é que, em Barcelos, poderemos esperar para o próximo ano?

 

O Orçamento Municipal e as Grandes Opções do Plano foram recentemente apresentados pelo Executivo da coligação que reúne PSD, BTF e CDS, tendo sido aprovados na última sessão da Assembleia Municipal. Este documento, que reúne as principais opções políticas do Município para 2023, demonstra que as escolhas da coligação de direita revelam-se como sendo “mais do mesmo”, aliás, na continuidade do que o Partido Socialista (PS) nos habituou, deixando muito a desejar e falhando com os barcelenses.

 

Este Orçamento Municipal resume-se a um conjunto de promessas ocas e floreado político. Num dos momentos mais importantes da vida política do concelho, e perante a situação dramática que as várias crises que temos vindo a enfrentar provoca, este Orçamento não responde a Barcelos ou aos barcelenses. Devido à limitação de texto, abordarei apenas um aspeto concreto que ilustra a falta de respostas do Orçamento: políticas para os jovens, que são especialmente prejudicados pela falta de ambição da coligação.

 

Será que o Executivo se preocupou em auscultar os jovens, procurando perceber o porquê de tantas e tantos que, crescendo e frequentando as escolas em Barcelos, acabam por sair do concelho, mesmo estando este tão perto de outras cidades e no litoral do país? Afinal, porque é que Barcelos não é suficientemente atrativo para o futuro dos jovens? Será por causa do preço da habitação, com custos incomportáveis para os jovens? Será devido aos baixos salários e à precariedade que caraterizam a realidade laboral do concelho? Serão as péssimas condições de mobilidade na ligação das freguesias à cidade e às cidades vizinhas? Ou será a realidade local, que se foi tornando gradualmente menos atrativa devido à estagnação e a ineficácia das respostas por parte dos sucessivos Executivos municipais? Muitos são os problemas dos jovens a que este Orçamento não dá resposta. As políticas para a juventude limitam-se a dar incentivos, assentes na lógica do empreendedorismo, limitado a um grupo restrito de jovens, com um determinado conjunto de capacidades académicas e financeiras, acima da média do concelho. Ao invés de políticas para todos os jovens, aprofundam-se as disparidades sentidas em Barcelos.

 

Ainda que este Orçamento não responda, de todo, às ambições e necessidades das e dos barcelenses, parece agradar (pasme-se!) quer ao PS, quer à extrema-direita do Chega, dado que o aprovaram. A viabilização do Orçamento da direita pelos deputados do PS (ainda que entre a abstenção e o voto a favor), demonstra, acima de tudo, a desorientação deste partido, incapaz de apresentar um projeto político alternativo – é o cúmulo de uma maneira inconsequente de fazer política, assente exclusivamente na sede por se sentar na cadeira do poder. Já a extrema-direita, com a sua forma de fazer política baseada no ódio e na intolerância, gosta de apregoar ser o único partido antissistema. Não deixa de ser curioso que, na altura da tomada de decisões cruciais, como o Orçamento Municipal, a extrema-direita não faça qualquer oposição – os que, alegadamente, são contra o sistema elogiam e votam a favor de um Orçamento feito pelos partidos do sistema!

 

Em suma, entre autoelogios e o vangloriar pelo rumo que o concelho tem seguido no último ano de governação, as e os barcelenses são penalizados pela falta de ambição e de respostas deste Executivo. No fim de contas, as perspetivas para 2023 não são as melhores. Ainda assim, à esquerda, sabemos bem o que nos espera: (mais) um ano de luta, com esperança, força e vontade para construir um concelho melhor e que seja, verdadeiramente, para todas as pessoas. Bom ano!

 

Artigo publicado na edição de 29 de dezembro de 2022 do jornal Barcelos Popular.