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O verão mais frio dos próximos anos

Regressamos, uma vez mais, àquela altura em que o nosso país arde. Uma assustadora normalidade que aceitamos coletivamente, em que centenas de incêndios consomem o nosso território, destruindo tudo o que encontram à frente. Florestas, plantações, habitações – por todo o país, a vida, a história e os ecossistemas vão sendo arrasados. Ano após ano, os incêndios são cada vez piores, tal como o seu combate, é cada vez mais difícil.

Mas qual a razão (ou razões) para esta situação? Primeiramente é necessário olhar para aspetos que precisam de resposta imediata. Desde logo sobressai o flagelo dos eucaliptos. Por todo o país vemos esta espécie a crescer de forma desordenada e descontrolada e onde não deve. É necessário avançar com um plano de reflorestação nacional que permita recuperar áreas ardidas e combata plantas invasoras, como o eucalipto, com espécies autóctones, impedindo que os erros do passado se repitam. É também essencial rever os instrumentos de planeamento agroflorestal disponíveis, de forma a melhor os ajustar às especificidades de cada região e à realidade marcada pelos impactos das alterações climáticas.

A par de tudo isto, é necessário investimento estratégico no território, não cedendo aos interesses dos grandes produtores, que vão desde a agropecuária, a agricultura intensiva ou a produção de papel. É importante canalizar fundos para fixar população, especialmente no Interior, de forma a potenciar os recursos aí existentes e transformar o território. Mas também investir no reforço dos meios humanos das várias instituições que estão na linha de combate e prevenção dos incêndios, desde bombeiros a guardas-florestais, com remunerações, condições de trabalho e carreiras justas e adequadas. Para tudo isto, é necessária vontade e responsabilidade política, e parece que o Governo do Partido Socialista não a tem, nem quer ter.

Por trás de todos os fatores mais visíveis há um problema maior que marca o compasso desta “velha-nova” realidade: as alterações climáticas e o caos provocado por estes fenómenos. Com temperaturas e secas extremas cada vez mais frequentes, os incêndios tornam-se, também, mais comuns. Há alguns dias vivíamos uma das piores ondas de calor que o país alguma vez enfrentou e vimos os impactos que teve – Portugal esteve em estado de contingência enquanto praticamente todo o país ardia e os termómetros batiam recordes em muitas zonas. Por toda a Europa, soam agora os alarmes, colocando todo o continente em risco e a temperaturas nunca antes vistas. E ainda estamos em meados de julho.

Já vemos os impactos das alterações climáticas. Os fenómenos climáticos extremos moldam hoje a nossa realidade, sendo cada vez mais comuns. Os incêndios a que assistimos são cada vez mais violentos e assumem maiores dimensões. É necessário que os governos e instituições atuem e enfrentem a crise climática – precisamos de respostas concretas que permitam minimizar os impactos e não de promessas vazias que nos empurram para o desastre. É agora ou nunca.

O país arde e não se prevê que o futuro venha a ser melhor. Quiçá, este verão será o mais frio dos próximos anos!

Artigo publicado no jornal “Barcelos Popular” a 21 de julho de 2022