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“Perante o horror da guerra e o drama de quem dela foge, a União Europeia tem de agir”

A coordenadora do Bloco começou a sua intervenção denunciando o terror da invasão da Ucrânia pela Rússia e solidarizando-se com o povo ucraniano e também “com quem, na Rússia, resiste nas ruas à repressão de Vladimir Putin e faz ouvir a sua voz contra a guerra”.

Catarina Martins denunciou a escalada da guerra, o drama dos refugiados (“o dobro dos refugiados que chegaram à Europa durante todo o ano crítico de 2015”) e acusou Putin, que “repete na Ucrânia, em grande escala, a receita tchetchena que levou à chacina de Grozni”.

Lembrando as grandes guerras e o ataque da NATO à ex-Jugoslávia, destacou que se “exige um compromisso forte com a paz”.

Sublinhando que “os países europeus não podem ficar à espera do que decidam os Estados Unidos ou a China e devem assumir também a responsabilidade primeira da construção dos caminhos para a paz na Europa”, a coordenadora bloquista afirmou que a UE “tem de agir” e concluiu: “Este é o tempo de a União Europeia se disponibilizar para mediar a preparação de uma Conferência de Paz, sob a égide das Nações Unidas, com o objetivo de assegurar a autodeterminação da Ucrânia e uma segurança duradoura na Europa…”

Intervenção de Catarina Martins na Sessão pela Paz em Braga

"Assistimos com um misto de incredulidade e terror à invasão da Ucrânia pela Rússia. Acompanhamos as notícias da guerra, com a certeza da nossa solidariedade com o povo ucraniano, com quem resiste, com quem foge. As mulheres e homens que sofrem com os bombardeamentos, os que fogem para salvar os seus e os que resistem à invasão são os primeiros heróis de uma guerra que nunca devia ter começado. E solidariedade também para com quem, na Rússia, resiste nas ruas à repressão de Vladimir Putin e faz ouvir a sua voz contra a guerra. Essas mulheres e homens são os verdadeiros bravos da Rússia e não esquecemos a sua coragem.

A tensão e a escalada belicista não começaram agora, é certo. E conhecer a história, questionar o que se fez, é indispensável para compreender como aqui chegámos e para desenhar soluções que permitam a paz. Mas os difíceis e complexos equilíbrios na região ao longo dos tempos não permitem mudar o nome ao que aconteceu agora: a Rússia invadiu e está a destruir a Ucrânia.

Esta invasão é um ato de guerra criminoso. A declaração de Putin, negando o direito do povo da Ucrânia à autodeterminação, é repugnante e não tem qualquer justificação legítima ou atenuante. Putin repete na Ucrânia, em grande escala, a receita tchetchena que levou à chacina de Grozni.

Segundo as Nações Unidas, nestas duas semanas de conflito, fugiram 2,5 milhões de pessoas da Ucrânia. Mais do dobro dos refugiados que chegaram à Europa durante todo o ano crítico de 2015. Estamos a assistir a uma crise humanitária que ultrapassa as fronteiras dos países em confronto e à destruição de um país. Multiplicam-se as notícias de bombardeamentos das infraestruturas da Ucrânia; das centrais elétricas, dos hospitais e de simples casas de simples pessoas.

Perante o horror, a Europa não pode baixar os braços. Há quem, aproveitando o sentimento de desespero, nos queira convencer de que a única resposta é mais guerra. Ignorem a política, esqueçam as sanções contra a oligarquia, abandonem a diplomacia: fogo contra fogo. Se uma cidade está a ser destruída, se as bombas caem sobre um hospital, façamos cair mais bombas. Poupar vidas, para os que ganham com a guerra, nunca é assunto. Se há coisa que a história nos ensinou é isto: para quem vive do negócio da guerra, a paz nunca é uma opção.

Condenar crianças à guerra, colocar armas nas mãos de civis que não sabem disparar, garantir armamento a grupos de todo o tipo, bem para lá do tempo e das fronteiras desta guerra, tudo vale quando a vida não vale nada. Mas para quem sabe o que vale cada vida, a guerra não pode ser a resposta absoluta.

A memória, ainda que já longínqua, das grandes guerras, e, mais próxima, do ataque da NATO à ex-Jugoslávia, exige um compromisso forte com a paz. A participação direta de atores terceiros no conflito não é uma opção, como todos reconhecem. Provocaria uma escalada insuportável em direção a um confronto entre potências nucleares.

Até agora, o consenso europeu, com as contradições conhecidas, centrou-se na proteção de quem foge da guerra, no apoio a quem resiste à invasão e na imposição de sanções económicas à Rússia e à oligarquia que apoia Putin. Este é um caminho certo, mas pode ser melhorado: no acolhimento aos refugiados como na penalização dos oligarcas. Mas os países europeus não podem ficar à espera do que decidam os Estados Unidos ou a China e devem assumir também a responsabilidade primeira da construção dos caminhos para a paz na Europa.

A questão que se coloca é, portanto, o que devemos fazer. Perante o horror da guerra e o drama de quem dela foge, a União Europeia tem de agir. Este é o tempo de a União Europeia se disponibilizar para mediar a preparação de uma Conferência de Paz, sob a égide das Nações Unidas, com o objetivo de assegurar a autodeterminação da Ucrânia e uma segurança duradoura na Europa…"